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Cultura tem de se cruzar com economia, educação e ambiente

O almoço-debate do International Club of Portugal que decorreu no dia 31 de Julho, no DoubleTree by Hilton Lisbon – Fontana Park, contou com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca. Falando sobre “Cultura e Economia em diálogo”, defendeu que “a cultura é muito mais do que apenas a oferta de cinema ou de museus é também a forma como nós nos conseguimos cruzar com outras áreas fundamentais da vida em sociedade e a relação com os agentes, sejam cidadãos, empresas ou associações”.

A ministra da Cultura partiu da dicotomia entre o que a economia e as empresas podem ganhar com a oferta cultural versus o que a cultura na esfera pública pode beneficiar com a participação das empresas, isto porque sente que existe um “divórcio” entre ambos que é “preciso resolver”.

Um dos pontos fracos apontados por Graça Fonseca é a falta de dados relativamente aos impactos, directos e indirectos, do desenvolvimento económico nas indústrias criativas. Por isso mesmo, esta é uma das linhas de trabalho do Executivo e no qual se pretende envolver universidades e centros de investigação.

Dando um exemplo a este propósito, a governante salientou a regeneração urbana na freguesia de Arroios, nomeadamente no Intendente, em Lisboa. Tal só foi possível, como disse, “à custa de projectos culturais e das indústrias criativas” que “ali se instalaram e ali decidiram arriscar”. Recordando que “até 2010 era a típica zona onde não íamos” e que “hoje em dia é uma das zonas mais valorizadas para o sector imobiliário, para os investimentos e para os investidores estrangeiros” e também para o “turismo”. Rematando que “isto é o que acontece em Londres, em Paris, e em muitas cidades e países fora da Europa”.

Outro dos pontos evidenciados prendeu-se com as decisões empresariais. “Hoje em dia as decisões não são tomadas, por exemplo, só por factores fiscais mas existe um conjunto de outros factores também muito importantes relacionados com a qualidade de vida e com aquilo que uma cidade, uma região, um país pode oferecer”. Por outras palavras, as decisões empresariais passam por apurar se no local onde se fixam existem “boas escolas, se tem boa oferta cultural…”. Para se responder a estas necessidades tem de se “investir”, defendeu.

Há, no entanto, um reverso nesta medalha, sobretudo quando se fala em grandes empresas tecnológicas. Não são as decisões empresariais a ditar a captação da cultura mas é a própria cultura a ditar o sucesso da empresa e para o efeito deu o exemplo da Apple, dizendo que o seu sucesso “não é por causa da tecnologia mas por causa do design (naturalmente a tecnologia ajuda)”, “é a forma como soube construir-se para além daquilo que é a sua engenharia de software e hardware”. Acrescentando que “a forma como nós vamos buscar determinados profissionais de áreas que não aquelas usuais numa empresa é fundamental mas para isso precisamos ter bons recursos formados”.

Os negócios estrangeiros e a abertura de novos mercados, pela mão da aicep Portugal, nomeadamente a relação entre os autores e as empresas, foi igualmente destacado pela ministra. Mas essa relação também tem de passar pelos “agentes e projectos culturais”, “por um lado, quem escreve, quem realiza um filme necessita de um mercado para além do mercado nacional” mas, por outro lado, “Portugal precisa que a internacionalização do País e da economia se faça através daquilo que é a projecção artística”. E também através da “diferenciação”.

O cruzamento com a área da Educação é também “fundamental”, sendo a “única maneira que temos de garantir o futuro e a sustentabilidade da cultura como um todo”. Considerando que somos também consumidores de cultura e que seguimos tendências, lembrou que o “consumo mudou muito e as novas gerações vão a um museu de uma forma totalmente diferente da forma como iam as gerações dos meus pais ou dos meus avós”. É por isso fundamental preparar a cultura para estas mutações e para as novas gerações.

E esta ideia levou ao último ponto da sua apresentação: o Ambiente. Hoje em dia as empresas, e os consumidores, sobretudo os mais novos, “exigem e bem, felizmente, sustentabilidade, reciclagem, produtos sem plástico, saber como determinado produto é fabricado e são, e vão ser, cada vez mais exigentes no futuro”. Os consumidores vão exigir cada vez mais que os museus, que o património cultural, também siga as regras de não ter determinado tipo de materiais, de fazer determinado tipo de programação que apele precisamente sobre qual é o nosso papel sobre as alterações climáticas, o que é que cada um de nós pode fazer, de que maneira é que os criadores e artistas podem, e devem, contribuir para este trabalho”.

Depois das férias de Verão o International Club of Portugal regressa com novas iniciativas. O próximo almoço-debate já está marcado para o dia 6 de Setembro e vai contar com a participação de Paulo Rangel, eurodeputado, vice-presidente do Grupo PPE, ex-líder Parlamentar e ex-secretário de Estado, que vai debruçar-se sobre a temática: “A Europa e os novos equilíbrios globais”.

Fotos: Joaquim Morgado