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Estudo da JLL alerta para a necessidade de estimular a oferta habitacional

É necessário estimular a oferta habitacional, sendo a solução o desenvolvimento de projectos de grande escala, a promoção do arrendamento e a diversificação de segmentos, geografias e tipologias, revela o mais recente estudo de mercado residencial da JLL.

A JLL apresentou esta manhã o seu mais recente estudo Living Destination 2023, um relatório que traça o retrato da situação do mercado residencial português em 2023, servindo, segundo a JLL como “um guia para quem procura compreender melhor os fundamentos do sucesso de Portugal como um destino de eleição”, dando a conhecer as principais tendências do sector habitacional, de modo que se possam “aproveitar as oportunidades que ainda estão por desenvolver”.

Apresentado por Patrícia Barão, head of residential da JLL, e Joana Fonseca, head of strategic consultancy & research, este estudo surge como uma actualização da sua edição anterior, em 2021, e teve um particular foco nas grandes zonas de Lisboa, Porto e Algarve. Através de uma análise aprofundada das principais características de cada zona, o estudo constatou que é notória, a nível nacional, uma diminuição da percentagem de fogos vendidos (-22%) e de volumes de vendas (-16%), quando comparadas com valores de 2022. Isto, contudo, não se reflecte na procura habitacional que, segundo a JLL, apresenta um “fluxo bastante sólido, sustentado pelos compradores nacionais (93% das casas vendidas), mas com uma presença dinâmica de estrangeiros.”

Esta procura dinâmica e estável choca com uma escassez de oferta. Segundo o estudo, em 2023, registou-se um aumento em cerca de 30,735 novas casas e 46,700, valores que, actualmente, são incapazes de colmatar as necessidades da procura.

Segundo o estudo, a solução para este problema é “aproveitar a oportunidade do mercado de arrendamento” e colmatar os principais problemas que o afectam: o desajuste entre os altos valores das rendas e o poder de compra das famílias portuguesas.

Foi a partir desta conclusão que a JLL notou a necessidade de o sector habitacional se adaptar à nova realidade do mercado. É necessário “ter oferta para corresponder às necessidades das famílias”, declarou Patrícia Barão, devendo “o grande foco da habitação ser disponibilizar casas para todos, o que implica diversificar em termos de localizações, de segmentos-alvo e até de tipologias”, acrescentou.

Para isto, é necessário que o sector incida sobre a decisão de construir projectos em grande escala, com foco para os projectos desenvolvidos para arrendamento e tendo em vista a diversificação de públicos em termos de rendimentos.

“Diversificar e garantir acessibilidade às famílias consegue-se com projectos de grande escala, que não podem deixar de fora também o arrendamento. Especialmente neste tipo de acesso, não podemos continuar com o mercado pulverizado que temos actualmente e que não dá resposta à procura que não pode ou não quer comprar casa. Apenas 15% do parque habitacional do País é arrendado”, salientou Patrícia Barão.

O estudo realçou ainda a necessidade de diversificar os projectos construídos em termos de localização geográfica. A JLL notou que há uma crescente afluência para as periferias das cidades. A Grande Lisboa é exemplo disto, uma vez que, segundo Joana Fonseca, se assiste cada vez mais a um aumento da oferta e procura nas zonas de Odivelas, Loures, Mafra e Seixal, regiões atractivas pelas suas “melhores acessibilidades, proximidade do trabalho e casas a preços mais acessíveis”.

O estudo denotou ainda a necessidade de o mercado se adaptar à nova realidade das famílias portuguesas, que aumentaram em quantidade, diminuíram em número de elementos e atribuíram um carácter multifuncional às suas casas. Segundo Joana Fonseca, “a casa já não é apenas o local onde queremos dormir. É também onde trabalhamos, onde os nossos filhos estudam”, pelo que a JLL revela ser necessário “um maior número de casas, mas adaptadas a estas novas realidades, eventualmente carentes de tipologias mais pequenas”.

“Todos acreditamos que o mercado em Portugal oferece condições para termos uma boa performance”, afirmou Patrícia Barão, salientando a necessidade de “fazer projectos que respondam ao que a procura quer”. Reconhece, contudo, que isto não poderá ser feito sem que se concedam “incentivos reais. “Só conseguiremos ter um mercado de arrendamento com projectos de grande dimensão e que são feitos a pensar neste segmento, mas pare isso é preciso termos condições para investir”, concluiu.

“A falta estrutural de oferta associada às alterações dos perfis de procura e de consumo, conferem uma atractividade acrescida a este mercado, que carece de casas para comprar e para arrendar para as novas famílias, em novas localizações e ajustadas às diferentes carteiras” declarou Pedro Lancastre, director-executivo da JLL Portugal. “É urgente, como País, investirmos na habitação. É preciso ter condições de estabilidade fiscal e legislativa e actuar nos obstáculos burocráticos do licenciamento, porque o mercado funciona e as oportunidades existem”,  acrescentou.

Artigo de Fábio Lopes, jornalista-estagiário da Magazine Imobiliário

DR Foto: Hugo Sousa na Unsplash