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“A importância da ferrovia para cumprir metas climáticas”

A ZERO informou que organizou, no passado fim de semana (11 e 12 de maio), a 2.ª Edição das Jornadas Ibéricas pela Ferrovia, em Lisboa.

Este evento foi promovido pela Aliança Ibérica pela Ferrovia, uma plataforma que junta 21 organizações sociais, sindicais, económicas e ambientais de Portugal e Espanha com o objectivo de melhorar os serviços ferroviários em toda a península ibérica.

A “Intermodalidade e a interligação de serviços” serviram como mote para este evento, que reuniu dezenas de especialistas, onde foram discutidos diversos aspectos da rede ferroviária ibérica, desde as plataformas rodoferroviárias para mercadorias, o plano de serviço ibérico para passageiros e ainda as infraestruturas necessárias para conectar as cidades ibéricas.

Numa altura em que os investimentos na alta velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid, e entre Lisboa e Porto, estão plasmados no Plano Ferroviário Nacional e podem ser acelerados tendo em vista a realização do Campeonato Mundial de Futebol da FIFA, agendado para 2030, em Portugal, Espanha e Marrocos, a ZERO considera imperativo que sejam tomadas medidas com o objectivo de tornar os tempos de viagens através da ferrovia competitivos com as viagens aéreas, uma vez que 15% a 20% dos movimentos aéreos de Lisboa e do Porto destinam-se a cidades da Península. Além dos serviços de alta-velocidade, a Associação afirmou ainda pensar ser importante que seja feita uma análise da rede de serviços nocturnos e dos serviços regionais transfronteiriços que têm sido cancelados e/ou fortemente reduzidos nos últimos 50 anos.

Das jornadas saiu o apelo a que a criação de serviços que pode ser operacionalizada desde já, não espere pela plena concretização dos grandes investimentos que, sendo inadiáveis e urgentes, demorarão algum tempo a concretizar-se como a nova travessia ferroviária do Tejo, que a ZERO pensar que “não ficará pronta antes de 2030”.

Especificamente, na Jornada, foram propostos, para 2025, serviços directos de longa distância entre Madrid e Lisboa, em formato diurno, e nocturno para Barcelona. Também serviços directos entre Madrid e Porto, via Salamanca e Fuentes de Oñoro, assim como serviços regionais entre Badajoz e Lisboa, e na costa atlântica, no eixo Porto-Vigo-Santiago-A Corunha.

A Jornada deu apoio ao pedido da CP para organizar um serviço nocturno entre Lisboa e Madrid, assim como recuperar a ideia de uma ligação nocturna entre Lisboa e Hendaya, para París.

De acordo com a ZERO, a ferrovia deve estruturar o transporte ibérico de mercadorias, que representa cerca de 40% das emissões de dióxido de carbono da mobilidade terrestre e do consumo de combustíveis rodoviários. A organização considera que a electrificação da logística tem “um papel muito significativo na descida rápida do impacto climático do sector dos transportes nos dois países”, e a rápida infraestruturação ferroviária dos portos, bem como a constituição de plataformas rodoferroviárias junto dos grandes centros geradores de carga, “são absolutamente decisivas”.

A ZERO defendeu ainda que o desenvolvimento das infraestruturas em falta deve ser acelerado para reduzir o uso do transporte rodoviário e eliminar as viagens aéreas nas curtas distâncias. “Portugal não deve repetir os erros de Espanha”, alertou, considerando que ao desenvolver uma rede transeuropeia principal que liga portos, aeroportos e grandes centros urbanos, deve ser tida em conta a sua conexão com a rede convencional, que “deve continuar a sofrer melhorias nas suas diferentes dimensões, nomeadamente na acessibilidade às estações através de corredores pedonais, cicláveis e de transporte público rodoviário”.

Direitos e condições laborais atractivos são factores que a ONGA considera “decisivos para formar e o reter talento que é necessário para revolucionar a mobilidade ibérica”.

“Não podemos ter políticas de transporte “esquizofrénicas”, isto é, manter um discurso consensual sobre a importância da ferrovia para cumprir metas climáticas e na prática aprovar medidas favoráveis ao transporte rodoviário ineficiente dependente de combustíveis fósseis”, rematou a ZERO, em comunicado.

DR Foto: Sergey Lapunin na Unsplash