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Rock in Rio: between a rock and a hard place

Na primeira conferência de imprensa Roberta Medina, vice-presidente executiva do Rock in Rio, estava com “borboletas na barriga” em relação à edição de 2024 e tinha motivos para isso: 20 anos de um evento memorável, mudança de localização e amplificação do número de marcas e espectadores. A pressão foi muita (provavelmente política). Mas o primeiro fim-de-semana esgotou e os espectáculos estiveram ao rubro. Mau grado, a segurança do evento e o regresso caótico a casa foi questionável.

Artigo de: Carla Celestino, directora Magazine Imobiliário

DR Foto: Ananene / RIR Lisboa24

A Magazine Imobiliário esteve este fim-de-semana no Rock in Rio, festival que se mudou do Parque da Belavista para o Parque Tejo, e, seguindo os concelhos dados pela organização e pelas forças de segurança pública, fomos de transportes públicos para o evento. Primeiro de comboio, depois de autocarro que parou bem longe do acesso ao recinto e quase nos fez pensar que ainda estávamos nas JMJ. Mas tudo pacífico, correu bem.

O primeiro grande impacto que tivemos foi o “tapete humano” que já se estendia até ao Palco Mundo ansiosos por ouvir os Xutos & Pontapés e a Orquestra Filarmónica Portuguesa. Entre grandes êxitos, uma ‘confissão rockada’ e “A Minha Casinha”, o público foi abençoado pelos “Homens do Leme” do rock nacional.

Aliás, esta imagem humana repetiu-se em todos os concertos do primeiro fim-de-semana do festival e foi quase transcendental ouvir 80 mil pessoas a cantar a uma só voz, fosse em português, fosse em inglês, com as bandas nacionais e estrangeiras.

Circular, ou talvez não

DR Foto: Afonso Batista / RIR Lisboa24

Foi difícil conseguir saltar de palco em palco. Circular de um lado para o outro foi uma verdadeira epopeia.

Vamos dar o exemplo de um espaço específico, só para terem a noção do que estamos a falar: se do lado direito estavam as casas de banho e as respectivas filas para homens, não binários e mulheres; do lado esquerdo, mesmo em frente, estavam as barraquinhas de comida também com as suas filas a crescer e a cruzar-se com as pessoas que iam ao WC; a isto acrescia pelo meio os transumantes que queriam ir para outros palcos ou outros spots de diversão. Não houve moches, mas muitos encontrões, e felizmente sem registos de desacatos ou a coisa podia ter corrido mal.

Perante este cenário, falámos com algumas pessoas para nos dar a sua impressão sobre esta nova “Cidade do Rock”.

De uma forma generalizada todos estavam a “curtir” o Rock in Rio. Pairava no ar uma vaga de entusiasmo que facilmente contagiava tudo e todos. Mas, nas entrelinhas, iam deixando transparecer algumas das preocupações que lhes ia na alma.

DR Foto: André Saudade / RIR Lisboa24

Começámos por barrar um casal cuja t-shirt denunciava logo a razão principal da sua vinda ao Rock In Rio: “Scorpions, é claro!” Mas foram logo criticando que estiveram muito tempo, “para lá do normal como em outros rock in rio”, só para comprar uma sandes e uma cerveja.

“Faltam árvores e espaços com sombra, o que nos vale hoje é o vento que vem do rio, caso contrário, não sei como aguentaríamos o sol e o calor”, diz-nos uma senhora na casa dos seus cinquenta anos à parca sombra do pavilhão da Casa Sapo.

 

DR Foto: Ananene / RIR Lisboa24

Enquanto estamos a ter dois dedos de conversa com ela, passa por nós um grupo de pessoas com coletes preto de pele e t-shirts a dizer “Europe”. Não os perdemos de vista e assim que pudemos corremos até eles. Nórdicos, de sorriso de orelha a orelha, dizem-nos que são fãs convictos da banda sueca e que aproveitaram também para desfrutar de uma visita turística a Lisboa.

Confessamos que também nós gostávamos de ter visto a actuação dos Europe, mas, depois de terminar o espectáculo dos Evanescence – com Amy Lee poderosíssima numa “casa cheia” junto ao rio -, já o espaço do Palco Galp estava completamente lotado.

DR Foto: Afonso Batista / RIR Lisboa24

Embora os nossos ouvidos tentassem descortinar um “Rock The Night”, o som simplesmente não chegava até nós. E foi aí que tudo podia ter corrido mal… Quando as pessoas perceberam que não ouviam absolutamente nada começaram a remar contra a maré para ir para outras paragens, entre os que subiam e desciam deu-se um jogo de empurrões e cotoveladas e até algumas tentativas de furto (que o diga a minha mochila).

Mas no final deste concerto a satisfação estava estampada em todos os rostos de quem assistiu aos Europe. Ouvimos frases como: “Continuam espectaculares!”, “Nem acredito que as canções que cantava no meu quarto, ouvi-las agora ao vivo passados tantos anos, estou tão feliz!”, “Estes ainda vão ter muitos ‘Final Countdown’ nos próximos anos…”. Mas também houve quem nos dissesse que “triunfou o espírito festivaleiro”, pois, “se houvesse algum problema, não sei o que aconteceria…”

Esta última frase leva-nos a questionar como se estabelece a capacidade de carga de um festival musical no nosso País, mas isso são outras canções…

“Vamos partir tudo hoje!”

DR Foto: Helena Yoshioka / RIR Lisboa24

A frase é do guitarrista português Nuno Bettencourt dos Extreme, mas bem podia ter sido proferida por qualquer outro grupo no Rock in Rio. Esta banda foi seguramente “More Than Words”, com solos de guitarras estridentes e Bettencourt a conseguir arrancar do público um sentido Hino Nacional.

De Portugal, os sons eram ora novos, ora saudosos, a apetecer ir para o ‘Sol da Caparica’, saltar com um ‘I Only Miss You When I’m Breathing’ ou simplesmente curtir ‘Só mais um começo’ e ‘Fix of Rock’n’Roll’. Foram momentos lendários…

O que dizer dos Scorpions: rendemo-nos ao extraordinário solo do baterista (nem uma mosquinha se ouvia no público), às grandes guitarradas e, claro, à apoteose dos êxitos de ‘Still Loving You’ e ‘Rock You Like a Hurricane’. São a prova viva que “vinho, ouro e Scorpions, quanto mais velhos melhor!”

Saímos do Rock in Rio com a alma cheia de canções e momentos inesquecíveis como se quer num evento que celebrou com chamas, foguetes e uma rapsódia musical 20 anos dedicados à Música. Foi lindo!

 

DR Foto: André Saudade e Samuel Martins / RIR Lisboa24

 

Por que razão mexeram na perfeição?

DR Foto: Hugo Moreira / RIR Lisboa24

A Magazine Imobiliário saiu do recinto após o concerto dos Scorpions e, num trajecto que num dia normal leva apenas cerca de 10/15 minutos (um pouco mais em dias de intenso tráfego), demorou quase duas horas…

Primeiro fomos a pé como formigas no carreiro (embora houvesse quem furasse os separadores), depois estivemos à espera do shuttle da imprensa que só conseguiu chegar às 00h30, seguiu-se um penoso pára-arraque com a intervenção policial a ter de pôr ordem no caos que se gerou nas estradas do Parque das Nações. Chegámos à Gare do Oriente à 1h45. E com isso, claro, perdemos o último comboio.

Sinceramente não percebemos e questionamos: Como é possível a CP não ter comboios até, pelo menos, às 2h30 da manhã? Achavam que 80 mil pessoas iam conseguir apanhar o último comboio da noite?

Foto RIR 2022

Valeu o Metro que teve o bom senso de alargar o horário. Assim como a rede de táxis, ubber e outros que salvaram a noite e levaram em segurança os festivaleiros para casa. Eram 3h30 quando finalmente fomos para a cama…

Apesar desta literal “dor de cabeça”, damos os “Parabéns!” à organização do Rock in Rio por estes 20 anos e por ter tido a coragem de abraçar esta mudança que, acreditamos ter sido muito política, e trazer até Lisboa grandes nomes do panorama musical nacional e internacional.

O Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa que nos perdoe, mas deixamos a Roberta Medina um “wishful thinking” partilhado por muitos dos espectadores com quem conversámos: que o próximo Rock in Rio regresse ao Parque da Belavista…, é que ali tudo está à mão (sobretudo os transportes públicos), tudo é verde, tudo já está bem organizado e “oleado”… Para quê mexer na perfeição?