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A incontornável digitalização do sector Imobiliário

A Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) dinamizou ontem, dia 18 de Julho, a V Conferência da Promoção Imobiliária, que teve lugar no Monsanto Secret Spot.

Reunindo várias figuras e especialistas do sector, a V Conferência da Promoção Imobiliária pretendeu debater e perspectivar estratégias para a criação de Habitação Acessível, sem descurar a sustentabilidade e o papel transformador da Inteligência Artificial no futuro do imobiliário. Neste sentido, estiveram em cima da mesa temas como a digitalização do sector, o desafio para colocar mais habitação acessível no mercado, os custos de construção e de contexto na actualidade, taxonomia na Europa, entre outros.

O primeiro painel da Conferência ficou a cargo de Luis Gregório, partner e technical specialist do IBM, que se debruçou sobre “O impacto da inteligência artificial (IA) no mercado imobiliário”.

“Há Inteligência Artificial desde os anos 60”, começou por afirmar. No entanto, considera que se “mudou completamente o paradigma com a introdução da chamada Inteligência Artificial generativa”, que permite “associar, por exemplo, a linguagem natural a ações que acontecem nos sistemas”.

“Daqui a 20 anos vamos explicar a uma geração que isto não existia. Não havia esta facilidade de fazer uma pergunta e obter uma resposta, e ter um sistema a responder em linguagem natural”, acrescentou.

De acordo com o especialista técnico do IBM, a Inteligência Artificial Generativa veio também mudar a forma como os potenciais compradores e arrendatários de imóveis se informam sobre a oferta no mercado: “a IA consegue perceber o que é um imóvel, consegue perceber qual é o preço do imóvel, o que é um metro quadrado. Consegue fazer esta ponte e dar esta resposta”.

Para si a IA oferece, assim, possibilidade de melhorar o modo de funcionamento das organizações, trazendo vantagens como a rentabilização de tempo e a sua consequente aplicação em tarefas mais importantes e criativas.

Sobre isto, Luís Gregório afirmou que “a Inteligência Social está a aprender connosco. Está sempre de passo atrás. Portanto, [é importante] referir que não pretendemos, com a IA, substituir toda a gente. Pretendemos sim libertar as pessoas do trabalho rotineiro para poderem fazer trabalho mais inteligente”.

Para isto, considera que toda a aplicação de IA no ecossistema das empresas deve ser:

  • Aberta – “estar assente em fontes abertas e open source. Porque é aí que está a acontecer a inovação”, afirmou;
  • Confiável – “há que manter esta fiabilidade e há que a governar saber, conhecer e acompanhar de forma como ela está a funcionar, tal como acompanharíamos qualquer outra forma de inteligência numa organização”, realçou;
  • Direcionada – uma vez que “Há que pensar que ela tem que ser adaptada ao domínio, tem que ser adaptada aos nossos próprios dados, à nossa própria organização para que responda por nós e não sobre coisas que não nos interessem responder”, acrescentou;
  • Capacitadora – “tem que estar adequada e pensada para gerar valor específico para a minha organização e não simplesmente deixar consumir algo que já está pré-construído”, concluiu.

Em destaque, esteve ainda o painel Energia e edifícios – As redes eléctricas inteligentes, a mobilidade eléctrica e a sensorização dos edifícios, que ficou a cargo de Sofia Tavares, directora de Marketing e Produto B2B da EDP Comercial.

“Está a ocorrer num processo de transição, que passa por uma economia com menos carbono, uma economia em que há mais produção de energia de fontes renováveis e uma economia que tem necessariamente mais consumo de eletricidade e menos consumo térmico”, começou por afirmar a responsável. “A descentralização é também algo que vai ter um papel muitíssimo importante nesta transição, porque é muito relevante para ter capilaridade, para ter uma escala nesta transição em que a produção de energia a partir de fontes renováveis aconteça, sempre que possível e na maior quantidade possível, no local onde é consumida”.

Reconhecendo que “as tecnologias descentralizadas estão cada vez mais competitivas”, Sofia Tavares declarou que, ao adicionarmos “uma camada de digitalização” a este processo, estamos a torná-lo mais “simples e acessível a quem a quem não entende tanto do sector”.

É a partir desta ideia que surge o conceito de Bairros Solares, que, de acordo com Sofia Tavares, se mostram, cada vez mais, como um exemplo do que significa descentralizar o setor da construção.

Mas o que é um Bairro Solar?  Conforme a especialista da EPD, trata-se de “uma comunidade de energia em que edifícios que têm espaço e têm capacidade instalam na sua estrutura a maior central [fotovoltaica] possível, tirando partido do espaço disponível para instalar uma central solar que produz energia. Essa energia vai ser utilizada para o seu autoconsumo, e quanto mais se produzir mais se consegue poupar”.

“E não tem risco, porque a energia excedente que não for autoconsumida, vai [ser partilhada] pela comunidade e os vizinhos que não têm espaço para poder instalar uma central solar” ou que, por alguma razão, não veem as suas facturas energéticas ser impactadas pela central. “Cria-se aqui um ecossistema virtuoso, um ecossistema verde”, acrescentou.

Segundo a especialista, a EDP instalou, até ao momento, cerca de 130 condomínios de bairros energéticos, abrangendo mais de 85 mil pessoas, e conseguiu poupanças de gastos com consumo energética que rondam os 60%, o que, para si, são números que “mostram de facto aquilo que é a complementaridade entre termos centrais centralizadas e descentralizadas nos edifícios”.

Este “não é um conceito exclusivo aos edifícios”, reconheceu, “é um conceito transversal com aplicação nas PME, aplicação nas fábricas, aplicação em armazéns”. No entanto, defendeu que, para existir um bom aproveitamento de todas as potencialidades das Comunidades Energéticas, “precisamos de ter processos que são simples, precisamos de ter processos que são inclusivos, e que são também capazes de saber, em qualquer momento, o que é que consumimos, o que é que gastamos”.

Isto, revelou, tem sido conseguido através da “implementação de sistemas de gestão de energia para que se possa tomar a melhor decisão em qualquer momento”. “A melhor decisão pode ser económica, mas pode ser também aquilo que é a minha necessidade” Tendo isto em conta, a EDP está a começar a “instalar sistemas que garantem toda esta inteligência e permitem uma tomada de decisão descomplicada e acessível a qualquer momento”, informou Sofia Tavares.

“Isto será uma realidade nos próximos anos e com isto também devemos trazer a capacidade de tornarmos mais dinâmico este caminho que é o da transição energética, em que os edifícios são uma peça essencial”, rematou.

DR Foto Homepage: Christina @ wocintechchat.com na Unsplash

DR Fotos Notícia: Cedidas por Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários