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André Jordan: Um hino à audácia

É com profundo pesar que a Revista Magazine Imobiliário informa e lamenta o falecimento de André Jordan, um dos maiores vultos do imobiliário e turismo de Portugal, que será sempre associado aos projectos emblemáticos da Quinta do Lago, Vilamoura e Belas Clube de Campo e um dos fundadores da APPII – Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários.

Jornalista: Joaquim Pereira de Almeida / Fotos: Anabela Loureiro

Em sua memória recordamos e partilhamos com os leitores a entrevista que o fundador da Magazine Imobiliário e jornalista Joaquim Pereira de Almeida realizou a André Jordan em Fevereiro de 2011.

André Jordan diz de si próprio que passou os primeiros anos da vida a fugir. De origem judaica, nasceu a 10 de Setembro de 1933, em Lwow, no Leste da Polónia (actual Ucrânia) onde o pai era industrial dos petróleos. O seu bisavô foi um dos pioneiros da indústria petrolífera nos finais do século XIX.

Um pouco antes do início da II Guerra Mundial o pai e uns amigos compraram a concessão da SHELL na zona. A companhia sabia o que eles não sabiam.

A mãe era formada pela Universidade de Varsóvia e antes de se formar, o seu pai – que era comerciante de tecidos – mandou as filhas para um colégio católico por achar que elas deviam ter uma visão para além da que a Comunidade Judaica lhes dava. Ela tinha uma adoração pelo catolicismo e, assim, os filhos foram convertidos e baptizados de acordo com os preceitos da Igreja Católica.

A 1 de Setembro de 1939 abandona a Polónia, no mesmo dia do início da invasão nazi, muito por influência da mãe que temia o pior. Saíram em dois automóveis, um grupo de seis pessoas constituído pelos pais, por André e a irmã e por dois primos. O resto da família ficou na Polónia e com três ou quatro excepções, ninguém sobreviveu ao Holocausto.

Na fronteira com a Roménia, os carros são requisitados pelos militares e eles tomam um comboio para Bucareste. Descem ainda até Itália onde passam por Veneza (que encanta o pequeno André) e o Natal é passado em Paris.

Entrar em Portugal só era possível se tivessem um visto para a América, o que a mãe consegue. No nosso País mora do Estoril e estuda no Colégio St. Julian, em Carcavelos.

O seu pai tinha ligações à Maçonaria e sugerem-lhe que vá à descoberta do Brasil o que corresponde também às aspirações da mãe que temia que a invasão alemã chegasse a Portugal. Em 1940 já estavam no Rio de Janeiro onde permaneceram sete anos.

O pai entra no ramo imobiliário, cria um banco, tem uma fábrica de vidros. “Era muito irrequieto” como caracteriza o filho.

Em 1947, os pais divorciam-se, e ele vai, com a mãe, para Nova Iorque onde está até 1950. Dos 14 aos 17 anos estuda num colégio interno. Compram uma townhouse, em Manhattan, na rua 68, entre Park Avenue e Madison Avenue.

André já tinha uma forte paixão pela música e não esquece que assistiu ao segundo dia da estreia de My Fair Lady, com Julie Andrews e Rex Harrison. Ia com muita frequência ao teatro e a concertos.

Jordan já tinha lido Jorge Amado e tornara-se num forte defensor dos direitos humanos e dos negros. No colégio aceitou partilhar o quarto com um colega negro e assumia-se, claramente, como um líder da esquerda estudantil.

É também nesta altura que tem o primeiro contacto com o golfe, quando visita o Greenbrier América’s Resort, em West Virgínia. Conheceu, então, Sam Snead (1912 – 2002), o recordista no PGA Tour, com 82 títulos.

Regressa ao Brasil em 1950 e forma-se em jornalismo em 1952. O seu primeiro trabalho, como repórter, é no Diário Carioca. Vive momentos de boémia e de vida social activa. Como conta, “durante dez anos não dormi porque não tinha tempo”. Faz parte da equipa que lança a revista “Visão”.

No Verão, frequentava o sul de França, a Côte D’Azur. Em 1960 casa com a princesa Mónica, do Liechtenstein, e dois anos depois parte para Buenos Aires, aproveitando a expansão dos negócios imobiliários do pai. Está lá até 1967. Constrói quatro mil fogos, financiados pelo Estado.

O pai, entretanto, morre aos 61 anos.

Jordan deixa a Argentina e volta aos Estados Unidos para ser director da maior empresa imobiliária à época, a Levitt & Sons, de Nova Iorque. Mas não cria raízes.

Divorcia-se em 1970 e regressa a Paris, onde estava a sua mãe. É nessa altura que um anúncio no jornal Fígaro, a pedir interessados na concessão do Casino de Vilamoura, e a conversa com um empresário sueco que lhe diz ser o Algarve o lugar do futuro, o põe a reflectir.

Regressa a Portugal, em 1971, onde um amigo, João Caetano lhe indica o contacto com o Grupo Pinto Magalhães que era dono da Quinta dos Descabeçados, que é a actual Quinta do Lago. Compra a propriedade porque Pinto Magalhães aceita que Jordan lhe pague um sinal de 200 mil dólares e um saldo de cinco milhões de dólares, à medida do ritmo das vendas. “Um grande negócio”. Constitui então a Planal, SA.

Teve como consultores, na altura, a Gefel, de João Caetano e a Geur de Pedro Vasconcelos. Fizeram o masterplan, num sítio onde só havia pinheiros e uma ruína que veio a ser o “famoso” Restaurante Casa Velha, depois de restaurada.

O turismo de qualidade no Algarve estava a começar quando se dá o 25 de Abril de 1974. Na semana da Páscoa desse ano venderam 50 lotes na nova Quinta do Lago que estava em franca expansão. A VOGUE tinha feito uma reportagem muito elogiosa. Jordan recorda-se, perfeitamente, que no próprio dia 25, um dos seus vendedores, Miguel Leite Faria, ia ao Porto para assinar um contrato de um grande lote com o banqueiro Artur Santos Silva. O negócio nunca se concretizou porque o aeroporto estava fechado.

E de repente o mercado parou. Em meados de Março de 1975, André Jordan passa uma procuração à Comissão de Trabalhadores para gerirem a empresa porque os bancos não aceitavam os cheques que não tivessem essa procuração. Isto resultou na criação de um organismo que era a CAETA – Comissão Administrativa dos Empreendimentos Turísticos do Algarve, através da qual se fez a intervenção na PLANAL. André considera que esta medida foi muito útil para salvar as empresas que, senão, tinham sido nacionalizadas ou falido.

Mas há ainda tempo para inaugurar o primeiro campo de Golfe da Quinta do Lago, a 1 de Novembro de 1974, o que se fez com pompa e circunstância, incluindo a presença de Otelo Saraiva de Carvalho. “O esforço era levá-lo a uma solução social-democrata”. Havia muitos mais convidados, incluindo personalidades estrangeiras. Durante a cerimónia a alta burguesia portuguesa não falava com Otelo, enquanto as princesas estrangeiras não o largavam.

Mas André Jordan é obrigado a ir ao Brasil resolver problemas financeiros e quando regressa, em 1980, tem o apoio, total, de Jardim Gonçalves, que era presidente do BPA. Retoma a propriedade da Quinta do Lago que vende, em 1988, para ir trabalhar, durante alguns anos, para a BOVIS, em Londres, com projectos em Portugal, Caribe e Espanha. Reestrutura, com grande sucesso, o empreendimento “La Manga”.

O Algarve volta a chamá-lo e, em 1995, compra Vilamoura onde realiza um autêntico milagre. Implementa o plano de revitalização e cria o Vilamoura XXI. Entra com o metro quadrado de construção a 150 euros e quando sai, nove anos depois, vende a 1.000 euros o metro quadrado de construção. “Vendemos bem Vilamoura e pagámos o passivo, é bom referir. A minha vocação é pagar”.

Paralelamente, lança o empreendimento Belas Clube de Campo que ainda é propriedade sua. Está à procura de um investidor sólido, como parceiro, para desenvolver a nova fase do empreendimento.

Este homem não pára e não fica agarrado a nada. Como diz, a gestão dos empreendimentos não o fascina, motiva-o mais a sua concepção e criação.

André Jordan é casado com Nora, uma americana nascida no Egipto. Tem quatro filhos nascidos de casamentos anteriores e oito netos. É uma personalidade fascinante que alia o jeito para os negócios com uma enorme paixão pela cultura. Homenageado dentro e fora do país inúmeras vezes, considera-se um social-democrata genuíno. A sua vida é também um hino à audácia e à alegria de viver.