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O que nos trará o Futuro?

A Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) organizou, na passada terça-feira, dia 18 de Julho, a sua V Conferência da Promoção Imobiliária, no Monsanto Secret Spot, em Lisboa, na qual se debateu o futuro do sector imobiliário.

Foi especificamente este o tópico de um dos painéis de destaque da primeira metade do evento: O futuro a bater-nos à porta! – uma mesa-redonda moderada por Patrícia Barão, head of Residential da JLL, que, segundo a mesma, teve como objectivo “falar sobre o que o Futuro nos espera, porque ele, de facto, está a bater-nos à porta e precisamos de saber o que está do outro lado”. Neste sentido, José Cardoso Botelho, director-executivo da Vanguard Properties, Luis Corrêa de Barros, director-executivo da Habitat Invest, Ricardo Sousa, director-executivo da Century 21 Portugal e Espanha, Francisco Campilho, director-executivo da Victoria Seguros, e Sérgio Ferreira, partner da EY, explanaram sobre as suas visões acerca do que espera o país nos próximos anos.

José Botelho começou por afirmar que uma das apostas da Vanguard Properties para revolucionar o sector tem sido a utilização de madeira como principal matéria-prima na construção dos seus empreendimentos. Apesar de reconhecer as potencialidades deste método, acredita que peca pela sua morosidade. “A questão é que isto demora algum tempo”, começou por afirmar. “Neste momento, para aquilo que se está a pensar em Portugal com este tipo de tecnologia, a nossa fábrica tinha que aumentar e trabalhar durante cerca de 3 ou 4 anos para conseguir suprir essa necessidade, que já é a de hoje. É preciso muito investimento nesta matéria. O que nós precisaríamos de fazer é aproximar o que é o modelo digital do modelo físico”, acrescentou.

Por esta razão, considera que “a industrialização é cada vez mais precisa, seja ela a construção em madeira, seja em modos pré-fabricados em betão. O betão também está a evoluir. Teremos soluções em que, por exemplo, podemos ter o core do edifício feito em betão e depois o resto feito em madeira. Portanto, há aqui uma junção, não é dizer que o betão vai desaparecer, mas enfim, a técnica de industrialização vai ajudar muito na aproximação do mundo digital ao mundo físico”.

“A Inteligência Artificial vai ter um impacto brutal nisto”, complementou. “Neste momento estamos a desenvolver uma plataforma que permite ao cliente, em duas, três horas, desenhar uma casa por completo, com todos os equipamentos selecionados e sair do nosso escritório com uma proposta, com um preço, com uma data de entrega”, rematou, reconhecendo que esta nova tendência de incorporar a IA nos modelos de negócio traz vantagens como a rentabilização do tempo.

Sobre o tópico da Inteligência Artificial (IA), quando questionado por Patrícia Barão acerca da possibilidade de as novas tecnologias colocarem em risco as profissões relacionadas com a consultoria e mediação imobiliária, Ricardo Sousa afirmou que “estarão em risco todos aqueles que recusarem aceitar que esta revolução já começou há muito tempo. Aqueles que se recusarem a abraçar estas novas tecnologias, estas potenciais oportunidades que se abrem com a tecnologia para evoluirmos como profissionais, como sociedade, e nas nossas empresas”.

“Temos no nosso sector, e vemos aqui alguns exemplos, novas tecnologias que nos permitem ser muito melhores. Dar o melhor serviço aos nossos clientes, sermos mais eficientes e evoluir”, acrescentou. “Temos que escolher muito bem onde é que vamos apostar e que tecnologias vamos incorporar”, reconheceu o director-executivo da Century 21. “Aqui a tecnologia tem que servir para mudar a forma como trabalhamos. Tem que ter o propósito de servir melhor os nossos clientes, aumentar a nossa produtividade”

Sobre a forma como a Century 21 está a incorporar novas tecnologias nos seus processos de trabalho, Ricardo Sousa revelou à audiência que a marca tem apostado em desenvolver “plugins e APIs com os principais bancos portugueses, onde ao entrar numa unidade Century 21, eu consigo automaticamente dar ao cliente, naquele minuto, uma viabilidade de financiamento. Ou seja, eu não tenho que assinar um contracto, peço essa informação ao banco, espero que o banco me responda. No minuto e no segundo, conseguimos também optimizar este processo”. “A tecnologia está cá, veio para ficar, como é que a podemos utilizar para transformar a forma como fazemos o nosso negócio, o nosso serviço, é que é a questão.”, finalizou.

Adoptando uma abordagem diferente, Francisco Campilho considera que a principal preocupação relativamente ao futuro do sector imobiliário português se prende com a questão dos perigos sísmicos, que considera “uma questão que tem vindo a ser descurada sistematicamente nos últimos 10 anos, e, se calhar, há muito mais anos que esta questão não está corretamente em direcção em Portugal”.

“Um estudo que foi feito pela Autoridade de Supervisão de Seguros, com base em dados que foram fornecidos pelas seguradoras e comparando também com dados do INE relativamente à habitação, 45% das habitações em Portugal não têm seguro, incêndio ou multi-riscos, e mais de 80% não têm proteção contra sismos”, declarou o director-executivo da Victoria Seguros, acrescentando que “esta é uma situação que tem de ser endereçada correctamente”.

Apesar de reconhecer os esforços do Governo para resolver o problema, como a estratégia de Protecção Civil aprovada em 2021 para responder à necessidade de protecção para catástrofes naturais e dos pedidos feitos à Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), em 2023, para determinar os critérios de criação de um fundo sísmico, Francisco Campilho acredita que esta questão “deixou de ser uma prioridade”. Por isto, afirmou ser “muito importante retomar este ponto, que é ponto-base de estrutura. Nesse sentido, considera “que a actividade segurdora tem muito a dizer, tem muita informação para partilhar, tem soluções. Tem conhecimento e tem capacidade de influenciar os clientes a adoptar comportamentos diferentes, técnicas de construção diferentes”, rematou o director-executivo da Victoria Seguros.

Optando também por uma abordagem menos focada na IA, Luís Corrêa de Barros debruçou-se sobre a questão da sustentabilidade. “Temos uma obrigação, uma obrigação europeia, mas, acima de tudo, moral, que é conseguirmos ter edifícios com net zero, com emissões neutras de carbono, e isso é um futuro que nos está a bater à porta, para o qual caminhamos. E isto preocupa-nos, interessa-nos, e estamos envolvidos enquanto equipa e enquanto empresa”.

Reconheceu ainda que “isto é algo de que nós necessitamos, porque todos os nossos financiadores, parceiros e investidores internacionais querem edifícios rentáveis, edifícios verdes com baixas emissões de carbono e, portanto, não vão investir em projectos em que os edifícios não tenham estas eficiências e estas características”. Esta preocupação “verde” é também sentida por si no contacto que estabelece com as entidades bancárias. Sobre isto, afirmou que “o financiamento bancário [está] completamente alterado e alinhado com isto. Chamado Green Finance, os financiamentos verdes vão financiar projectos que tenham esses critérios”.

No entanto, acredita que “o caminho está traçado. Começando com o Simplex, que é primeira ladada no charco, uma mudança de paradigma, este futuro que nos está a bater à porta é outra mudança de vários paradigmas. E quando falamos em cidades inclusivas, a cidade dos 15 miúdos, tudo isto tem que passar por melhorias dos transportes das redes de transportes públicos, dos bairros onde todos os serviços estejam perto, onde ida para o trabalho seja cada vez de um trajecto menor, e, portanto, tudo isto obriga a repensar muito. É um caminho que vai demorar muito tempo acontecer e vai haver muitas evoluções e recuos e muitas alterações, mas eu acho que não conseguimos fugir dele, que obrigatoriamente temos que olhar para ele, porque vai acontecer, está a acontecer. Se não for desta forma, nós deixamos de ser eficientes, deixamos de ter um lugar no mercado”, declarou Luís Corrêa de Barros.

Retomando o tópico da Inteligência Artificial, Sérgio Ferreira afirmou que o sector imobiliário está bastante atrasado em relação aos demais: “Hoje em dia, como é evidente com a Inteligência Artificial Generativa, acho que o sector tem uma oportunidade tremenda de recuperar aquilo que é o atraso tem relativamente às outras indústrias”. Apontou, como exemplos de formas de como a IA pode auxiliar os profissionais do ramo imobiliário, “a capacidade e facilidade com que hoje nós temos de treinar um modelo de IA com documentação, por exemplo, de contractos de arrendamento e depois facilmente com um agente digital, poder a linguagem natural fazer perguntas sobre essa informação, é muito fácil. Eu posso facilmente indagar e perguntar qual é que é o conjunto de informação de um contracto de arrendamento. E ele responde com grande precisão sobre muitos, muitos dados. Esta é uma das grandes vantagens que acho que o sector pode ver neste ano”.

Argumentou ainda que a IA pode ser bastante útil às empresas, no sentido de criar experiências com os seus clientes, ao invés de interagir com os mesmos através de meras transacções. “As empresas que estão a ter sucesso são aquelas que estão a mudar o que é o foco do seu consumidor para aquilo que é a experiência que têm com a marca e muito menos naquilo que é a transacção”.

Sobre as potencialidades que isto traz ao sector imobiliário, Sérgio Ferreira acredita que “a área de promoção imobiliária tem uma oportunidade tremenda de fazer coisa maravilhosas. Hoje, com a Inteligência Artificial, eu posso perceber e segmentar o cliente, perceber quais são as suas preferências e mostrar-lhe um apartamento já com aquilo que é o seu posicionamento, o seu status, o que é o estilo que ele gosta, de forma muito fácil. O conjunto de ferramentas para fazer isto é enorme”.

Para encerrar esta round table, Patrícia Barão pediu a todos os participantes que escolhessem uma palavra que, para si, descrevesse o futuro de Portugal nos próximos anos. “Tecnologia numa montanha-russa incrível, numa locomotiva transformacional”, foi a frase que a head of Residential da JLL compôs com os contributos do painel e que serviu para encerrar este debate.

DR Foto: Cedida por Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários