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Políticas monetárias divergentes podem tornar comércio mais competitivo

A Crédito y Caución, marca de seguro de crédito interno e de exportação em Portugal, recorda que Junho foi um “mês importante para o futuro do comércio global, já que as políticas monetárias dos EUA e da Europa iniciaram uma divergência lenta, mas potencialmente significativa.”

De acordo com a informação avançada, no início de Junho, o Banco Central Europeu reduziu a taxa de juro da sua facilidade permanente de depósito em um quarto de ponto percentual, para 3,75%, sinalizando uma confiança crescente de que a guerra contra a inflacção está a ser ganha. Uma semana depois, a Reserva Federal (Fed) norte-americana manteve a sua taxa de juro de referência entre 5,25% e 5,5%, preocupada, talvez indevidamente, com a rigidez das pressões inflacionistas.

Refira-se, no entanto, que, por agora, “esta divergência monetária entre os dois principais bancos centrais é ligeira.” Como a Crédito y Caución salienta, “o corte de juros na zona do Euro foi acompanhado por um discurso ‘hawkish’ para sinalizar que esse movimento não é necessariamente o início de uma tendência de queda constante.” Acrescentando: “Nos Estados Unidos, a cautela da Fed foi prejudicada por evidências crescentes de que o mercado de trabalho americano está a começar a arrefecer. Isto é significativo, porque os fortes números do emprego teriam sido um factor-chave na decisão de manter as taxas inalteradas.”

No entanto, a dissociação entre as políticas monetárias dos EUA e da Europa é “real”. Segundo os economistas é expectável mais dois ou três cortes de juros na Europa este ano, em comparação com apenas um nos Estados Unidos, possivelmente já em Dezembro. “Esta bifurcação pode ter importantes implicações a curto e longo prazo para a economia e o comércio mundiais.”

A Crédito y Caución considera que a Europa “não se livrou completamente da inflação”. As novas previsões sugerem que “a meta de 2% do Banco Central Europeu não será alcançada até ao final de 2025” e “a rigidez salarial e a inflacção interna continuam a ser preocupantes”. Além disso, “os responsáveis políticos insistem em que haverá solavancos no caminho”, no entanto, “a redução trimestral das taxas de juro demonstra a crescente confiança do banco central nas perspectivas de inflacção a longo prazo, juntamente com o desejo de estimular o fraco crescimento económico da zona Euro.”

Não obstante, como refere o comunicado o “Banco Central Europeu está a assinalar uma mudança gradual na direcção do crescimento económico” e “os mercados e as empresas não irão ignorar a indirecta.” Do lado dos EUA “é provável” um “novo fortalecimento do dólar face ao euro”, o que “poderia levar a uma melhoria da posição competitiva da zona Euro, dando um impulso suave às perspectivas económicas sombrias da região.”

John Lorié, economista-chefe da Atradius, citado no comunicado, declara que as “políticas monetárias divergentes tornarão o dólar americano mais atraente em relação ao euro, levando a uma melhoria na posição competitiva da zona do Euro em relação aos Estados Unidos.” Sublinhado que “um dólar americano mais forte em relação ao euro poderia tornar as exportações da zona do Euro mais competitivas, potencialmente impulsionando o comércio, ao mesmo tempo que tornaria as exportações dos EUA relativamente caras no mercado mundial.”

A empresa considera que “à medida que o euro se desvaloriza, os países poderão encontrar os bens denominados em euros mais baratos, o que poderá transferir alguns fluxos comerciais para a Europa” e que “este efeito pode ser mínimo na actualidade, mas é provável que ganhe dinamismo se a divergência da política monetária se tornar mais pronunciada ao longo do ano.”

A Crédito y Caución lembra que não foi há muito tempo que o Banco Central Europeu seguiu o exemplo da Reserva Federal norte-americana ao nível da política monetária, “muitas vezes com um ligeiro atraso.” Como afirma no comunicado: “Liderar a redução das taxas de juro é uma rutura com as normas históricas recentes” e “também é uma surpresa.” Com efeito, há seis meses, a maioria dos economistas esperava uma flexibilização conjunta da política monetária em 2024 e já em Março deste ano a Reserva Federal falava em três cortes nas taxas de juro este ano, em vez de um; mau grado imperou o optimismo em relação aos cortes nas taxas de juro que se desvaneceu face às pressões inflacionistas persistentes, incluindo o crescimento dos salários e uma economia notavelmente resiliente.

Com uma actividade económica mais anémica na zona Euro, o Banco Central Europeu decidiu que já não pode esperar que a Reserva Federal actue, por isso um corte de juros foi anunciado em Abril, o que aconteceu em Junho. Qualquer flexibilização adicional será baseada em circunstâncias locais e dados da inflacção, e não em qualquer tentativa de acção conjunta, implicando uma maior independência da política monetária, um aumento da incerteza e da volatilidade nos mercados financeiros, especialmente no câmbio. E as “empresas que se dedicam ao comércio externo devem estar cientes disso.” E a Crédito y Caución dá o seguinte exemplo: “Diante da competitividade reduzida nos mercados globais, as empresas norte-americanas podem precisar de reavaliar as suas estratégias de financiamento e proteger-se mais do que anteriormente contra os riscos cambiais.”

Lorié salienta que “os efeitos em cascata também podem ocorrer num ambiente de negócios mais amplo.” E acrescenta que “um dólar mais forte do que o euro, por exemplo, pode afectar a competitividade dos bens e serviços comercializados entre os Estados Unidos e a Europa. Isto pode influenciar os termos dos contratos comerciais entre empresas e as balanças comerciais bilaterais.”

DR Foto: Guillaume Périgois na Unsplash