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Comissão Europeia poderá estar a ceder ao lobby da indústria da aviação

Esta afirmação é da ZERO que alerta para os tremendos efeitos da aviação no clima e os quais a Comissão Europeia se propõe ignorar. A organização ambiental salienta que só os efeitos não-CO2 da aviação em Portugal podem representar 20% das emissões totais no País.

A ZERO, em comunicado, alerta para o altíssimo impacto climático das viagens aéreas, que vai muito para além das emissões dióxido de carbono (CO2). Com efeito, estima-se que os efeitos não-CO2 – que incluem o efeito das emissões de outros gases com efeito de estufa, tais como óxidos de azoto e vapor de água, bem como a formação de contrails (rastos de condensação) que têm um efeito de aquecimento da atmosfera – sejam responsáveis por cerca de dois terços do total do aquecimento global provocado pela aviação – ou seja, equivalem ao dobro dos efeitos directos das emissões CO2.

Neste contexto, a ZERO consultou os dados publicados pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) relativos ao consumo de combustível para a aviação (jet fuel) em Portugal de Junho de 2023 a Maio de 2024, i.e., dados referentes ao combustível utilizado para abastecimentos de todos os aviões nos aeroportos do País, e chegou à conclusão que só os efeitos não-CO2 associados ao uso desse combustível podem corresponder a 10,6 milhões de toneladas de CO2eq. (equivalente), o que equivale a cerca de 20% de todas as emissões registadas no país em 2022. Já os efeitos totais, incluindo o directo do CO2, equivalem a cerca de 16,2 milhões de toneladas de CO2eq., ou seja, cerca de 32% das emissões totais do país. Estes valores, quer um quer outro, mostram a gravidade tremenda dos efeitos da aviação no clima. Estas emissões são mesmo superiores às emissões totais que o país poderá ter num contexto de neutralidade climática em 2045 ou antes.

A Comissão Europeia organizou uma consulta às partes interessadas e ao público em geral sobre os objetivos, o âmbito e os primeiros passos para a criação de um sistema de Monitorização, Reporte e Verificação (MRV) dos efeitos não-CO2 da aviação.

A ZERO revelou que participou nesta consulta pública e, pelos motivos apontados, deixou um parecer cheio de reservas, lamentando que a Comissão esteja a dar mostras de cedência aos interesses do lobby da indústria da aviação. Se isso acontecer, é grave, pois excluir os voos de longo curso significaria que dois terços dos impactos dos efeitos não-CO2 ficariam de fora do esquema de MRV, alerta a ZERO. Os efeitos não-CO2 não estão cobertos por mais nenhum outro regulamento ou tratado internacional, pelo que reduzir o âmbito do MRV no CELE compromete o único plano para os começar a entender e combater.

Como pistas para mitigar este problema já nos próximos anos, a ZERO aponta para a moderação do tráfego aéreo, para a utilização de rotas por parte das aeronaves que minimizem este impacte, e para uma necessidade urgente de recurso aos denominados combustíveis sustentáveis (SAF – Sustainable Aviation Fuels) cujas propriedades parecem indicar uma redução destes efeitos não-CO2.

DR Foto: Ch P na Unsplash